quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Você chega lá

Bom, tudo começou com a Talita. Ela fica dizendo que não, mas foi. Nossa amiga descobriu a existência de um shopping de lojas outlet aqui em Lisboa. Várias lojas, várias marcas, variados produtos. Todos com preços baratíssimos. Aí o Paulo foi cortar o cabelo e o cabelereiro brasileiro não só confirmou que isso existia, como disse que saía um ônibus do bairro Expo para o tal Freeport, porque ele afinal não ficava em Lisboa mas perto. De repente, começam a aparecer comercais na televisão com o slogan: "Freeport - Você chega lá".

Era aí que a gente deveria ter desconfiado, né? Mas não. Nem quando o Fernando apontou um dia para a Talita: "Tá vendo aquela ponte que a gente não consegue ver o fim? O Freeport fica depois dela". Nem assim a gente desconfiou. O inverno apertou e todo mundo precisou de casacos que fossem coisa séria. Eu fui para o site da empresa Transportes do Sul do Tejo pegar o horário dos ônibus. E, finalmente, ontem, fomos ao Freeport.

Nós pegamos o metro (já disse que metrô se chama metro aqui?) da linha amarela, trocamos por um da linha vermelha. Chegamos na Gare de Oriente às 15:05. De acordo com o site, havia um autocarro (ônibus) às 15 em ponto e outro às 15:30. Pois bem, 15:30, 40, 50... Nada. O bicho chegou às 16. Tudo bem, eu pegava o Paranjana, sei que ônibus atrasam.

Lá, foi aquela alegria. Entrávamos nas lojas, saíamos, nos perdíamos uns dos outros. Algumas lojas foram decepcionantes, outras surpreendentes. Entramos na Rebook e eu disse "poxa, se eu precissa de um tênis comprava aqui mesmo". Os tênis tavam em torno de 50 euros. Há um ano atrás eu comprei um tênis de presente pro Paulo em Fortaleza, foi 300 reais. Compramos os casacos, gorros para a cabeça, meias de frio. Paulo e Fernando desistiram de acompanhar nosso ritmo e eu e Talita seguimos só pelas lojas. Achamos a loja com as coisas mais lindas do universo, chamada Desigual, mas com coisas caras. Pena. Fomos na Carolina Herrera, Versace, Hugo Boss, Guess... Mentira, a gente só olhou a vitrine e saiu de perto. Ninguém tinha dinheiro pra comprar mais nada. Pronto, fomos resgatar os meninos no café para ir embora.

Eram 21:30. De acordo com o site, o autocarro saíria 21 horas de Montijo, cidade perto, e estaria em 25 minutos no Freeport. O próximo era às 22:45. Bom, se ele atrasou tanto na vinda, deve atrasar um pouquinho. Carregados de sacolas, seguimos para a paragem.O frio não tava para brincadeira, o banco de metal era tão gelado que não conseguimos sentar e ficamos em pé. 21:30, 21:40... a fome apertou, Talita colocou as luvas... 21:50 ... eu tirei meu casaco recém-comprado e coloquei... 22 horas ... a Talita tirou o gorro recém-comprado e colocou... 22:10 ...começou a chover.

"Meu irmão, que é que nós tamos fazendo aqui?". Nosso sistema emocional se entregou da melhor forma e gargalhadas histéricas dispararam. "E o pior é que nenhum táxi passou aqui." "Na verdade, passaram uns quatro". kkkkkkkk. Dois carros estacionados perto da gente. "Alguém sabe abrir porta de carro?", "Então é por isso que brasileiro vira criminoso na Europa" kkkkk. "Vamos ligar pra nossa senhoria e pedir resgate? Ela falou que se a gente precisasse, ligasse", "Só que nós estamos fora da cidade" kkkkkk. "Mas se a gente fosse preso será que levavam para Lisboa?" kkkk. Fora de controle.

22:20 o Paulo tirou seu gorro recém-comprado e colocou. Agora, nós quatro parecíamos marginais. O celular de um de nós toca: "Sim, pai? Não, está tudo bem. Estamos indo para casa. Frio? Não, tá só chuviscando um pouco". kkkkkkk 22:30... "Vamos listar o que cada um comprou, onde e quanto?". 22:40 outras pessoas chegam na paragem. Nós pensamos: "Graças a Deus, então o autocarro deve passar por aqui daqui a pouco". Lá vem uma senhora nos perguntar: "Vocês sabem que horas passa o autocarro pra Lisboa?" kkkkk. 22:50 vem um ônibus com outro número do que o que nós esperávamos. Eu fui perguntar ao motorista se não iria para Lisboa também. Quando cheguei na porta, o motorista arrancou sem olhar para minha cara. kkkkkk. Fora de controle mesmo.

23:10, o ônibus chega! Entramos desesperadamente e nos jogamos nos bancos. Mais risadas. Estamos indo para casa! Não, ainda faltam dois metros... Chegamos em Oriente 23:40, paramos para comer no shopping porque não havia mais condições. "Eu agora queria comprar um carro"... Meia-noite no metro. O Paulo inventa a brincadeira não-super legal de perguntar o que a Talita compraria com 10 mil reais. Linha amarela, linha vermelha e 15 minutos depois ela ainda está enumerando e eu estou pensando no divórcio. Chegamos na última parada! Agora caminhar para casa. "Será que ainda está chovendo?", "Não, mas pelo chão molhado a chuva acabou de passar por aqui", "Meu irmão, a gente perdeu até a chuva por alguns minutos"...

Na calçada da nossa casa eu fui obrigada a anunciar: "Ah, meu tênis acabou de descolar!". Fora de controle. Como diria Tá, a gente chorava de rir. Paulo: "meu amor, você vai demorar um pouco agora pra voltar lá, certo?". E assim acabou a ida ao Freeport. E quem quiser ir lá, no futuro, eu fico feliz em indicar o caminho. Não se preocupe, você chega lá. Agora, se volta é outra história....

3 comentários:

Juliana disse...

Gente, que aventura!
Estamos montando uma grande progrmação, viu?!

Eleni disse...

Geninha e Paulo, e se eu quiser ir a este lugar?... Vocês sabem que sou chegada a umas promoções e desorientada geográficamente como eu sou, não dá pra ir só... Ah! Solução: vou com seu pai, só não sei se volto viva.
Beijos.

Déborah Vanessa disse...

Eita que deve ter batido o desespero várias vezes, mas que a história foi engraçada foi...